Coincidência ou não, mas, 100 anos depois da grande seca de 1915, que inspirou Rachel de Queiroz a escrever o seu primeiro e mais popular romance, “O Quinze”, teremos mais uma seca pela frente, e neste ano de 2015, caso prevaleça o prognóstico climático, apresentado dia 20, pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), no Estado do Ceará, a probabilidade de um trimestre chuvoso é de apenas 9%, deixando aquela sensação de que tudo continua igual. Será?
As chances para um cenário de seca são grandes: 64%. Significa dizer que o Estado não pode garantir a recarga dos mananciais. Mesmo diante de um prognóstico, triste, para não dizer, catastrófico, os tempos são outros, especialmente, se comparados a 1915, 1932. Hoje, é possível monitorar os reservatórios, sejam federais ou estaduais. Em 1915, sequer, tínhamos reservatórios para monitorar e, confirmada a seca, os flagelados invadiam Fortaleza e outras grandes cidades do Ceará.
Para o empresário cearense, João Teixeira, que atua no setor de agronegócios, não tem como comparar. Atualmente, a nossa população é de mais de 8 milhões de pessoas, bem diferente de 100 anos atrás, e a migração diminuiu, a prova é que os quatro anos de pouco inverno não tiraram a população do interior. “Houve um avanço muito grande por parte do governo federal, principalmente, da Era Getúlio pra cá”, disse.
“Claro que a estiagem é preocupante, o semiárido tem água para dois anos, e esta é uma vitória da nossa política de irrigação; o nosso grande problema é o Canindé e o Crateús; estão sem água. E com relação ao crescimento, realmente, tivemos um crescimento muito grande, mesmo no período de estiagem.”
Durante a coletiva no auditório do Palácio da Abolição para apresentação do prognóstico, o governador Camilo Santana mostrou-se preocupado com a incapacidade de restauração do volume de agua dos reservatórios: “É preocupante”, disse. De acordo com os dados extraídos do portal “Reservatórios em alerta” (http://www.hidro.ce.gov.br/), da Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH), até às 14h07 horas e sete minutos de ontem (26), o volume de recursos hídricos disponíveis, referente aos reservatórios administrados pelo governo do Estado, era de 3.720.000.000m³, ou seja, 19.8% da capacidade total de armazenamento.
A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) monitora 149 açudes, e o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) responde pelo monitoramento de 66 açudes, atualmente, com uma reserva hídrica de 21,20%. Para o titular da SRH, Francisco Teixeira, o cenário de mais um ano, abaixo da média, exige um esforço conjunto e a união de vários segmentos, para que “possamos minimizar o sofrimento da população, e garantir a água. Vamos descobrir onde tem água e vamos tirar água de lá.” Atualmente, 176 dos 184 municípios cearenses decretaram estado de emergência.
(OEstadoCE)