O Brasil detém 12% de toda a água doce do planeta e abriga grandes bacias hidrográficas, como as dos rios São Francisco, Paraná e Amazonas, a maior do mundo. No entanto, o grande volume hídrico está concentrado na Região Norte, exatamente a menos habitada. Por sua vez, o semiárido e o sertão nordestino sempre estiveram associados aos cenários tórridos da seca que castigam a população.
Nos últimos anos, porém, alterações no regime de chuva levaram as regiões mais populosas do Brasil, sobretudo a Sudeste, a também conviver com o drama da seca. Em São Paulo, por exemplo, que enfrenta grave problema de abastecimento no Sistema Cantareira, a chuva até que apareceu com força no início do ano, mas caiu longe dos reservatórios: desabou em cima da cidade impermeabilizada pelo asfalto e pelo concreto dos arranha-céus.
Professor de engenharia civil e ambiental da Universidade de Brasília (UnB), Demétrius Christofidis critica a atual gerência dos sistemas de armazenamento de água pela falta de planejamento de médio e longo prazos. “Esses projetos foram feitos há muitos anos e são baseados em médias históricas de observações. Na fase que antecede o sinal amarelo, já deveriam ter feito estudos revisando essa situação”, diz.
O próprio governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, admitiu que o estado mais rico do País convive com racionamento: “Quando a ANA [Agência Nacional de Águas] determina que você tem de reduzir de 33 para 17 metros cúbicos por segundo a captação de água no Cantareira, é óbvio que você já está em restrição”.
Dados da ANA indicam que 55% dos municípios brasileiros podem sofrer deficit de abastecimento em 2015. O alerta foi feito em audiência pública realizada na Câmara dos Deputados no final do ano passado.
Diante da gravidade do quadro, o deputado Sarney Filho (PV-MA) quer que a Câmara mantenha um comitê ou um grupo de trabalho permanentemente focado no acompanhamento das medidas que procuram combater ou, pelo menos, amenizar os efeitos da crise.
“Tenho certeza de que essa é uma discussão que vai se prolongar porque os resultados das mudanças climáticas estão aparecendo cada vez mais. E isso vai ter repercussão aqui dentro do Congresso”, comenta o parlamentar.
O novo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, já anunciou que o Plenário vai realizar, em breve, uma comissão geral para debater a crises hídrica e energética no País.
(Agência Câmara)