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Crateús vive sua maior crise hídrica.

Crateús. As nuvens escuras que ainda encobrem este Município do Sertão dos Inhamuns, em pleno início do mês de maio, não trazem, para os moradores, a mesma esperança percebida no começo deste ano, quando as previsões dos meteorologistas apontavam para uma quadra chuvosa melhor que as anteriores no Ceará.

Nos dois primeiros meses do ano, de acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia (Funceme), o Ceará alcançou 60% do esperado de precipitações para o período, que possui a média histórica de 600.7 mm. Os dados da Funceme também mostraram que choveu 359.1mm, entre os meses de fevereiro e março, quando o normal para esse bimestre é de 322 mm de precipitações; ou seja, houve aumento de 12% do esperado.

Escassez

Apesar da boa notícia, ainda mais para a agricultura familiar, a chuva que banhou o Estado, até agora, não foi suficiente para tirar da situação de calamidade os açudes Carnaubal, Barragem do Batalhão e Realejo, que antes abasteciam Crateús, com pouco mais de 73.500 habitantes. A última vez que os três reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará (Cogerh) sangraram foi em 2009. De lá para cá, a sucessiva diminuição das chuvas agravou cada vez mais a situação dos açudes, com gradativa queda de seus volumes. Juntos, eles respondiam por 114.080,000 de capacidade hídrica do município.

Campo verde

A crise da falta de água nos reservatórios de Crateús agravou-se em 2013. Mas foi em 2015, que a água desapareceu por completo dos açudes, deixando para trás grandes extensões de terra rachada, que o mato encobriu por completo, ao longo dos últimos anos. Olhando do alto da parede dos açudes, a vista mergulha num emaranhado de mato e arbustos, horizonte adentro. E, se ali não fosse um reservatório, a imagem poderia enganar a quem não conhece o Semiárido nordestino, supondo que a mata que encobre de um verde vivo, aquelas terras, seria sinônimo de bom inverno para a região, dando a falsa sensação de tranquilidade de oferta de água. Mas de acordo com o último boletim divulgado pelo Portal Hidrológico do Ceará, Crateús se arrasta para mais um ano de seca completa em seus açudes.

Sem água

A Barragem do Batalhão, a primeira a ser construída no Município, ainda na década de 1970, pelo Exército Brasileiro, que tem instalado na região o 40º Batalhão de Infantaria, está seca.

O reservatório, que já teve seu tempo como única opção de oferta hídrica na cidade, cedeu espaço para o Açude Carnaubal, inaugurado em 1989 para atender a população, ampliando a rede de abastecimento de água com seus 81.000.000m³. Hoje, o Carnaubal também está exaurido. Assim como o Açude Realejo, a cerca de 21Km da sede da cidade, no distrito de mesmo nome. A água empoçada ali, representa apenas 3,49% da sua capacidade total.

Adutora

A crise fez com que medidas emergenciais fossem adotadas pelo governo do Estado para minimizar o impacto causado pela falta de água na cidade. A resposta foi a construção de uma adutora de montagem rápida, partindo do Açude Araras, no município de Varjota, na Zona Norte, até Crateús, a cerca de 154Km de trajeto, com parte do percurso margeando a CE- 176, ou adentrando estradas de terra, passando por várias pequenas localidades entre os municípios de Varjota, Ipu, Ipueiras, Hidrolândia, Nova Russas (também abastecida pela adutora), Ipaporanga e Crateús. Somada a escavação de poços, nas zonas urbana e rural, e o atendimento por meio de carros-pipa, a água que sai do Araras, que opera hoje com apenas 15,67% de sua capacidade, é o que tem mantido a dignidade dos muitos moradores que não têm nenhum outro recurso hídrico a seu dispor.

Vazamentos

Ao longo da extensa linha de tubulação, monitorada pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), responsável pelo abastecimento de água de Crateús, o que tem sido comum é a ocorrência de vazamentos em diversos pontos. O que, muitas vezes, faz com que o nível da água baixe, não atingindo plenamente a Estação de Tratamento de Água (ETA) em seu destino final. Uma dessas fissuras se localiza num trecho de uma estrada de terra, no Distrito de Flores, em Ipu.

A pressão faz com que a água jorre livremente, se espalhando ao redor da tubulação, numa parte encoberta pelo mato. A quantidade de água desperdiçada formou um lago de pequenas proporções, que preocupa pelo volume de água que acaba não tendo serventia nenhuma.

De acordo com o pecuarista Francisco José Martins, os vazamentos sempre ocorrem. “As equipes da Cagece consertam, mas, em pouco tempo, a água volta a vazar. Existe um controle sobre os horários de liberação da água para Nova Russas e Crateús, que se servem dessa adutora. Mas, pela sua extensão, é difícil manter a tubulação sem furos. Tem semanas que são localizados cerca de três vazamentos em pontos diferentes”, lamenta.

Níveis assustadores

De acordo com o gerente regional da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), Francisco Rodrigues Pessoa Júnior, os três açudes de Crateús pertencem às Bacias Sertões de Crateús e Serra da Ibiapaba, que compreendem dez reservatórios. A situação hídrica a qual chegou o município tem chamado atenção do governo do Estado, que viu na instalação da adutora de montagem rápida, a saída para amenizar a escassez de água, que chegou a níveis assustadores em 2013. Projetada para atender Nova Russas e Crateús, a adutora, no ano passado, teve de ampliar o abastecimento aos municípios de Ipu e Pires Ferreira.

“Existe a possibilidade de ampliarmos esse atendimento também a Tamboril, mas isso ainda está em estudo. Apesar da boa chuva que caiu sobre a nossa região, nada pôde ser feito em relação aos nossos açudes, já que não houve recarga, após sucessivas faltas de água. As reuniões dos Comitês de Bacias da Região continuam para que possamos deliberar as ações que são necessárias à manutenção e distribuição consciente dessa água, num esforço conjunto, já que dependemos mesmo da natureza para mudar essa realidade”, disse o gerente.

(Diário do Nordeste)

 

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