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O cearense que saiu de Monsenhor Tabosa e construiu carreira política no Estado do Tocantins

Cearense de Monsenhor Tabosa, Antonio Jair Abreu Farias, 48 anos, assumirá em fevereiro o mandato de Deputo Estadual pelo estado do Tocantins. Mais conhecido como Jair Farias, o empresário é filiado ao MDB e migrou de sua terra natal muito cedo onde casou-se, constituiu família e faz carreira política desde então na cidade de Sítio Novo.

Jair Farias foi eleito com 22.952 votos, tornando-se o quinto deputado estadual mais bem votado de 2018 no Tocantins. Antes de se tornar deputado, Jair foi vice-prefeito da cidade de Sítio Novo, em 1992, aos 22 anos de idade. Em 1995, ele assumiu a prefeitura por ocasião do afastamento do titular, e ficou até o encerramento da gestão em 1996. Nesse período o seu prestígio político cresceu muito em virtude do trabalho que ele conseguiu realizar estando prefeito por pouco mais de um ano.

Na mesma cidade, que tem 9 mil habitantes, o cearense de Monsenhor Tabosa voltou a ser eleito vice-prefeito em 2004 e reeleito em 2008. Novamente em 2010, ele assumiu a prefeitura devido o afastamento judicial do prefeito. Desta vez ele ficou no cargo até o fim. Candidatou-se à reeleição em 2012 e foi eleito, sendo reconduzido ao cargo, para cumprir o mandato de 2013 a 2016.

Jair consquistou prestígio por administrar uma cidade com população relativamente pequena, onde o Fundo de Participação dos Municípios (FPM) recebido por Sítio Novo é de 0,6%. Os poucos recursos, foram investidos com responsabilidade. Jair enxugou a máquina pública, contratou o essencial e mostrou que era possível fazer uma gestão diferente, transparente e voltada para o povo.

O futuro parlamentar frisa que político decente não faz oposição ao próprio Estado, porque, se fizer isto, estará fazendo oposição ao povo.

Ele concedeu entrevista ao Jornal Opção e respondeu vários questionamentos sobre política, economia e outros assuntos.

O Censo pode constatar que houve aumento significativo da população e, assim, o valor do FPM pode aumentar, como ocorreu noutras cidades do Tocantins?

Não. Infelizmente, o aumento da população foi relativamente pequeno e não é suficiente para pleitear mudanças de alíquotas.

Em razão da proximidade, Sítio Novo está muito mais integrado à cidade de Imperatriz (MA) do que aos municípios de Araguaína e Palmas. Isto acaba contribuindo para evasão de arrecadação?

Não vejo assim. É preciso reconhecer que estamos devendo favores ao Estado do Maranhão, que recebe e cuida da nossa população, no que concerne à saúde e à educação. A população do Bico do Papagaio usa os hospitais públicos do Maranhão, que é bem administrado pelo governador Flávio Dino (PCB). É um exemplo a ser seguido. Ele promoveu a recuperação fiscal do Estado, investiu pesado na segurança, na saúde — que se tornou referência — e na educação. Ele procurar qualificar os professores. O Maranhão já não é mais motivo de chacota e nem de piadas infames.

Pode-se falar em legado político, uma vez que seu sobrinho e sucessor, Alexandre Farias, é o prefeito da cidade?

Sim, de certa forma. Alexandre Farias é filho do meu irmão mais velho. A legislação eleitoral permite a eleição de sobrinhos. Ele assumiu o cargo em 2017 e tem feito um bom trabalho.

Como o sr. classifica a boa votação recebida no sul do Estado, onde não é muito conhecido?

O fato do ex-candidato a prefeito da cidade de Gurupi Walter Junior ter carisma, credibilidade e ter me apresentado à população certamente me rendeu muitos votos. Acres­cente-se que a votação se estendeu por toda a região sul — em cidades como Formoso, Araguaçu, Peixe, entre outras. Esse conhecimento com as pessoas também me rendeu votos no centro do Estado — nos municípios de Paraíso do Tocantins, Porto Nacional e Dois Irmãos. Foi um árduo trabalho, mas me tornei mais conhecido pelo Estado. Minha intenção é retribuir com muito trabalho, proporcionando melhorias para essas comunidades.

Evidentemente que todo seu retrospecto de realizações lhe rendeu essa surpreendente votação no pleito de 2018. Qual o balanço que o sr. faz desta disputa e do resultado?

Nunca conquistei nada que não fosse com muito trabalho, luta e sacrifício. Obtive uma votação extraordinária, fui o mais votado tanto na minha coligação quanto na minha re­gião, mesmo com poucos recursos e sem apoio governamental. Junta­men­te com o deputado reeleito Amé­lio Cay­res e o ex-prefeito de Tocan­tinópolis Fabion Gomes, deputado e­lei­to, faremos uma frente ampla em prol dos interesses do Bico do Papagaio.

O sr. se elegeu pelo MDB, que passa por uma crise de identidade no Tocantins. Qual é a sua ligação e en­volvimento com a sigla partidária?

Foi meu primeiro partido, no qual fiquei 23 anos. Na eleição de 2014, migrei para o Solidariedade e, em 2018, retornei ao MDB. Tenho raízes na sigla e muitos amigos. Para se ter uma ideia, mesmo sendo um candidato que representava os interesses do norte do Tocantins, tive mais de 1300 votos na capital, Palmas. São amigos, conterrâneos de Sítio Novo e emedebistas, que acompanham o meu trabalho há muito tempo, assim como a militância na política e serviços prestados como diretor da Associação Tocantinense dos Municípios (ATM).

Há profundas divergências no MDB, até por ser um partido que se tornou uma frente política. Porque o sr. decidiu se filiar novamente no partido?

Cresci na política. Quando tinha aproximadamente 12 anos de idade, fugia para ir a comícios políticos que havia na cidade. Em 1982, quando Iris Rezende foi eleito governador de Goiás, Estado do qual fazíamos parte, fui escondido à reunião do candidato, quando estavam presentes Mauro Borges, Lázaro Barbosa, José Freire e Moisés Abrão. O MDB perdeu muito de sua essência. Derrotas como as que sofreram alguns caciques, como Romero Jucá, Valdir Raupp, Eunício de Oliveira, e o desgaste do presidente Michel Temer, que não tem mais condições de dirigir o partido, nos obrigam a repensar estratégias e promovermos reciclagens. No Tocantins, não é diferente. O partido goza de muita simpatia junto à população e a maior prova foi ter conseguido eleger a maior bancada para o Parlamento estadual — com cinco deputados —, mesmo estando todo esfacelado, sem sequer ter candidato próprio na chapa majoritária. O partido precisa de um sacolejo. Já disse à deputada federal Dulce Miranda que devemos nos posicionar de forma sólida nas eleições internas que ocorrerão em 2019. O presidente Derval de Paiva é um sujeito extraordinário, digno e honrado, mas precisamos dialogar, saber se está disposto a dar um novo rumo para a legenda, uma oxigenada, pois estamos adormecidos e, unidos, precisamos reagir.

As eleições de 2020 serão completamente diferentes, pois as coligações estarão proibidas. O projeto é se adequar para o próximo embate?

É necessário. Cada legenda terá que formar seu próprio quadro de candidatos. Por isso, é salutar que o MDB saia da zona de conforto, vá a campo, se reestruture nos grandes centros como Palmas, Gurupi, Araguaína, Araguatins e Paraíso. Precisamos nos fortalecer e lançar candidaturas próprias e competitivas em todas elas. Na capital, por exemplo, a deputada Dulce Miranda pode ser um bom nome para a Prefeitura de Palmas. Temos, enfim, bons nomes para a disputa.

Em razão da cassação do ex-governador Marcelo Miranda (MDB), os emedebistas foram obrigados a registrarem suas candidaturas na chapa encabeçada por Carlos Amastha, ao qual o sr. declarou irrestrito apoio em seus discursos. Isso significa que, como deputado, o sr. fará oposição ao governo de Mauro Carlesse?

Não é bem isso. Não pretendo me posicionar como ferrenho oposicionista ao governo e tampouco ao Estado do Tocantins. Passamos por um delicado momento e precisamos dar as mãos, no sentido de unificarmos ações. Torço para que os governos federal e estadual acertem. Porque será positivo para o país e para o Estado. Para tanto, precisamos urgentemente fazer o dever de casa: reduzir despesas, enxugar a estrutura administrativa e recuperar a capacidade de investimentos. Vejo disposição por parte do governador Carlesse e, na medida do possível, quero ajudá-lo, sem fazer oposição sistemática. Contudo, alerto que não sou daqueles que fecham propositalmente os olhos ou fazem ouvidos-moucos, no que concerne a ações e propostas que firam meus princípios ou direitos do povo.

Como o sr. pretende conduzir seu pri­meiro mandato parlamentar? Qual será a linha prioritária de atuação?

Será municipalista, na essência. Minha candidatura nasceu de uma necessidade de representação dos municípios do Bico do Papagaio. Pretendo fazer um mandato diferente e participativo. Ouvir as bases e dar atenção às pessoas. Serão priorizadas as ações e parcerias com as associações, igrejas, sociedade civil organizada. É necessário apresentar projetos no sentido de fortalecer as políticas de inclusão social para a juventude; promover e incentivar a agricultura familiar, gerando emprego e renda no campo; desburocratizar o agronegócio, visto que muitos recursos são perdidos por excesso de exigências meramente burocráticas. A saúde está sucateada e, por isso, enquanto deputado, vou propor mais rubricas no orçamento que contemplem nossos hospitais, contribuindo com a gestão. Em relação à educação, a destinação de recursos é prioritária, porque as escolas possuem estrutura arcaica, que clamam por urgentes reformas. Nosso Estado é, por natureza, quente e ensolarado, todavia, muitas unidades escolares sequer possuem condições infraestruturais para receber a instalação de aparelhos de ar-condicionado nas salas de aula. Vou propor a instalação de mais escolas técnicas e escolas de tempo integral, que incentivem também a prática de esportes, cultura e música, com finalidade de retirar nossos jovens do mundo das drogas e da prostituição.

O sr. acredita que seja mesmo possível mudar essa realidade?

Na condição de deputado estadual, vou propor projetos que beneficiem, por exemplo, a agricultura irrigável nos assentamentos. Trata-se de atitudes relativamente simples, mas que mantêm o homem no campo, sem precisar migrar para os grandes centros, onde geralmente reina o caos social. Os dois principais problemas do Brasil são desemprego e violência. Contudo, ações bem direcionadas podem resolver vários problemas. Quando exercia funções na Associação Tocantinense dos Municípios, fiz gestão para que fossem direcionados recursos para a construção de duas creches no município de Sítio Novo. Muitos acharam que isso só traria despesas aos cofres municipais, mas é uma visão micro. Como gestores, devemos pensar no macro e ter ideia de futuro. Crianças bem cuidadas e alimentadas têm menor possibilidade de ficarem doentes — o que evita mais gastos com a saúde pública. Pela mesma razão, essas mesmas crianças são beneficiadas com educação básica de qualidade, o que é de grande valia, mesmo porque o próprio município é beneficiado, uma vez que aumentam os recursos advindos do Fundeb. E elas passarão o dia todo nas creches, os pais terão mais condições de trabalhar e, por consequência, aumentar a renda familiar. Finalmente, há geração de emprego porque é necessário contratar mão de obra, desde cozinheiras e auxiliares de serviços gerais, como pedagogos, professores, profissionais da saúde, entre outros, para cuidar das crianças assistidas. Basta fazer as contas: investimentos sociais não devem ser vistos como despesas, mesmo porque, se bem geridos, eles se pagam.

Qual é sua visão acerca dos entraves aos novos investimentos por parte da iniciativa privada?

É muito mais do que necessário atrair novos investidores, assim como fiz quando prefeito da cidade de Sítio Novo. Atualmente, funciona no município um dos maiores projetos de piscicultura do Estado do Tocantins, que emprega aproximadamente duzentas pessoas. O empreendimento só se fortaleceu em razão da parceria com o poder público municipal, que propiciou condições ao empreendedor para que pudesse desenvolver suas atividades. Nosso Estado tem várias potencialidades: localização geográfica estratégica, rico em água e recursos naturais, regularidade de chuvas, boas vias de escoamento, como a BR-153 e a Ferrovia Norte-Sul, que cortam todo o nosso território. Esse conjunto de fatores é mais do que suficiente para atrair novos investidores; no entanto, ainda somos pobres. Não estamos sabendo explorar nossas riquezas. O Tocantins precisa de um planejamento estratégico para que se trabalhe por um desenvolvimento amplo e integrado de todas as regiões.

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