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Cai número de cidades em contingência de abastecimento no Ceará

As chuvas acima da média registradas no Ceará no trimestre inicial de 2020 possibilitaram o início de reversão de um quadro crítico no abastecimento hídrico domiciliar. Em abril do ano passado, oito municípios – Itapiúna, Mombaça, Monsenhor Tabosa, Milhã, Boa Viagem, Parambu, Pereiro e Piquet Carneiro – enfrentavam medidas de contingência no abastecimento urbano.

Em igual período de 2020, este número caiu para seis: Itapiúna, Milhã, Monsenhor Tabosa, Mombaça, Boa Viagem e Salitre. Se comparado abril ao mês anterior, o número regrediu pela metade. Em março deste ano, eram 12 cidades e, em igual período de 2018, 46. As ações de contingência englobam rodízio entre os bairros na distribuição de água e racionamento em dias alternados.

“A situação vem mudando para melhor na atual quadra chuvosa. Até o fim de maio, esperamos que mais cidades saiam dessa situação”, projetou o diretor de Negócios do Interior da Cagece, Hélder Cortez

As cidades de Acopiara, Iguatu, Icó, Pereiro, Parambu e Quixeramobim que, até o mês passado, integravam a lista de municípios em regime de contingência, agora voltaram à normalidade. A mudança de patamar deve-se ao aporte conquistado em mais de 100 açudes do Estado ao longo dos primeiros três meses deste ano. O Trussu foi um desses reservatórios.

Em 13 de março de 2020, ele acumulava apenas 1,35% de seu volume total. Duas semanas depois saltou para impressionantes 16%. “Ele (Trussu) é responsável pelo abastecimento das cidades de Iguatu e Acopiara e, com esse volume, já dá segurança hídrica de pelo menos dois anos aos dois municípios”, explicou o gerente do escritório regional da Cogerh em Iguatu, Anatarino Torres. Juntas, essas duas cidades do Centro-Sul somam quase 200 mil habitantes.

Dos seis municípios que ainda enfrentam contingenciamento no abastecimento domiciliar, três estão em maior nível de criticidade: Monsenhor Tabosa e Milhã, geridas pela Cagece, e Boa Viagem, cuja responsabilidade do abastecimento compete ao Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae).

Esses dois primeiros centros urbanos já vivenciam situação delicada há dois anos. O Açude Monsenhor Tabosa há oito anos vem registrando consecutivas perdas de volume, declinando de 76,75% em 2012, para 0,34, em 1º de abril de 2020. “Essa é a pior situação”, reconhece Hélder Cortez.

Em Milhã, moradores relatam os prejuízos diante da dificuldade no abastecimento. “Faz tempo que a gente sofre. A água não chega nas torneiras. Temos que comprar. A renda já não é muita e ainda somos obrigados a gastar com água”, lamenta a diarista Marcelle Sobrinho Costa.

Já em Boa Viagem, a escassez hídrica se estende por cinco anos, período em que o Açude Vieirão agoniza. “A gente sabe que por aí afora está chovendo, mas aqui não tem sido suficiente para encher a barragem”, relata o agricultor de base familiar Carlos Mesquita. Ele conta que, neste período, a renda obtida na agricultura “caiu em mais de 50%”.

Alternativas

O secretário executivo da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Aderilo Alcântara, pontua que a política pública de perfuração de poços profundos, intensificada desde o início do mais recente ciclo de estiagem que o Ceará enfrentou a partir de 2012, assegurou o abastecimento de cidades e de centenas de localidades rurais. “Hoje, 55 municípios se beneficiam de poços profundos. Essas implantações ajudam a garantir o abastecimento de muitas pessoas”, disse.

Outra alternativa foi a expansão das adutoras de montagem rápida. A cidade de Pereiro, no Médio Jaguaribe, também enfrentou uma crise de desabastecimento que perdurou até o fim de 2019, mas a partir da implantação da adutora – que capta água no Rio Jaguaribe e transporta o recurso hídrico por 40km -, agora está fora do quadro de cidades com contingência no sistema de distribuição de água.

“A adutora salvou todos nós. Antes a gente precisava comprar água, agora não”, alegrou-se a dona de casa Marlene Lima.

Controle de vazão

Para manter o Estado num cenário hídrico confortável, especialistas alertam para a necessidade do uso consciente da água. Uma pesquisa da Universidade Federal do Ceará (UFC) estima que, nos próximos 22 anos, o consumo de Fortaleza alcance 20 mil litros por segundo.

Este número é maior que a vazão (13m³/s) que será captada pelo do Cinturão das Águas no Projeto de Integração do Rio São Francisco e quase o dobro do consumo atual da Capital cearense que, segundo a Cagece, é de 10,9 m³. Por isso, medidas de controle são cada vez mais importantes.

Para evitar colapso hídrico, outros países, principalmente na Europa, adotam a partir de redes inteligentes, um sistema de telemetria para que o usuário monitore seu consumo de água diariamente.

“Se o consumidor não sabe o quanto consome, não tem controle”, defende Marco Aurélio Teixeira, gerente de uma empresa paulista que desenvolve aparelhos de telemetria. O sistema já foi implantado em aproximadamente 600 condomínios de São Paulo.

Com a verticalização das cidades, a ausência de monitoramento individual de água que ainda acontece em muitos lugares do País, incluindo Fortaleza, impede que o consumidor monitore o quanto gasta.

“A gente viu que era importante chegar na mão de quem interessa, o consumidor final. Por isso, nós desenvolvemos um aplicativo que tem a função de ser o orientador. Ele gera informações todo dia”, explica Marco Aurélio. Nele, o usuário também pode definir o quanto quer economizar, criar uma meta e diariamente se informar se está cumprindo esta projeção. Os números são dados a cada uma hora. O App é ligado ao sistema de telemetria, que é adotado pelas concessionárias de água.

“A gente está passando por uma mudança cultural muito grande. Sempre tivemos a água como bem infinito e barato. Só que a coisa não é bem assim”, alerta Marco Aurélio. “Num ambiente crítico como o Nordeste, onde há rodízios para preservar o reservatório é ainda mais importante ter controle”, completa.

(Diário do Nordeste)

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