Regionais

Não podemos nos acostumar com a seca.

O Ceará assume, com uma placidez constrangedora, que está no seu sexto ano de seca. Em minha região, os Inhamuns, costumeiramente uma das mais atingidas pelo malfadado fenômeno climático, a situação de escassez d´água está se transformando em angústia coletiva. As chuvas que caíram não recuperaram, nem em escala mínima, as necessidades dos açudes, alguns deles praticamente secos, “no osso”, como se diz por lá. Não vamos dizer que os pobres dos municípios do Oeste do Ceará já estejam passando fome, pois não seria verdadeiro, já que a parca ajuda dos programas federais têm atenuado o problema. E que Deus nos livre de repetirmos o estado de calamidade absoluta, quando as secas de 1877, 1888, 1915 e 1932 mataram milhares de cearenses de fome.

Aquilo que os livros e a crônica histórica registraram, com um realismo aterrador, poderia ter servido de lição. Entretanto, continuamos a repetir a mesma velha história da ineficácia das soluções, costumeiramente improvisadas e sempre tomadas em caráter emergencial. A negligência oficial para conosco é uma doença incurável, uma endemia.

O Nordeste detém índices humilhantes de depauperação e pobreza, ao ponto de abrigar mais de 54% dos indigentes do país. Tema de ensaios sociológicos, poemas e romances, a miséria nordestina não pode continuar a ser tratada apenas como literatura. Ela é responsável por uma série de complicações e anomalias que tipificaram o nosso povo, dentre elas a baixa estatura e a magreza.

A desculpa histórica para justificar o estado de penúria de nossa região é a seca. De fato a cada dez anos no semiárido nordestino há apenas quatro anos de bom inverno, onde as chuvas permitem colher de 60% a 100% da área plantada. Em outros três anos, acontece a frustração da perda de, no mínimo, metade do que se plantou. Nos demais três anos da década perde-se de 80% a 100% da lavoura.

A seca é, pois, uma desculpa que, embora verdadeira quanto aos efeitos sobre a produção, não se justifica quando se analisam as políticas oficiais sobre seu tratamento. Os egípcios resolveram o problema da escassez de chuvas ainda no tempo dos faraós, por volta de 1.700 antes de Cristo. O Estado de Israel, nos anos 50 do século passado.

O fenômeno climático já foi devidamente estudado. Diagnósticos e soluções vêm sendo oferecidos desde os tempos do imperador Pedro II, aquele que, num arroubo demagógico teria declarado que empenharia o último brilhante da coroa real para que não morresse um único cearense de fome. Morreram milhares. O presidente Epitácio Pessoa construiu açudes e criou o IFOCS, hoje DNOCS, autarquia que, de vez em quando, é alvo da cobiça de matreiros políticos do Sul e do Leste que disputam sua direção e querem transferir sua sede para Brasília, com o objetivo único de nomear suas diretorias.

Juscelino Kubitschek criou a SUDENE, visando estimular a industrialização e a multiplicação de empregos: alguns espertalhões, com a conivência política, se apossaram da maior parte dos recursos, evitando que eles fossem disseminados para criar pequenas e médias empresas e empregar mais. Tanto fizeram que praticamente faliram aquela superintendência, agora em processo de ressurreição. Ora, o Fundo de Investimento do Nordeste (FINOR) repassou para a nossa região, nos últimos 35 anos, mais de R$ 40 bilhões, capital suficiente para gerar mais de 70 mil empregos diretos. Pois bem: graças aos desvios e às manipulações desonestas essa dinheirama só gerou 15 mil empregos.

Audic Mota
Deputado Estadual

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